quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Aos 180 anos, Paróquia de São Joaquim e Sant'Ana em Garopaba espera por reformas




Aos 180 anos, Paróquia de São Joaquim e Sant'Ana em Garopaba espera por reformas


Guilherme Lira | guilherme.lira@diario.com.br


Na igrejinha de paredes descascadas, em que Jesus é de madeira e Nossa Senhora dos Navegantes está sobre um barco à esquerda do altar, quem manda é Maria José da Silva.

Mas o que a guardiã das chaves da Paróquia de São Joaquim e Sant'Ana, em Garopaba, tombada pelo Patrimônio Estadual, queria mesmo era ter o poder de começar uma reforma urgente no local.

A restauração é necessária para que a estrutura de 180 anos não desmorone. Na torre do sino é possível ver o lado de fora pelas rachaduras que se formaram nas paredes.

Sentadinha numa cadeira de madeira e palha, Maria José recebe com sorriso quem quer conhecer a igreja, interditada há cerca de dois anos. O balanço do sino teria comprometido a estrutura da torre. Mas para ela, a coisa não é tão simples assim:

— Percebi que a umidade do mar também comprometeu as paredes, por isso, está afundando.

Dona Maria dedicou 29 dos seus 42 anos à paróquia - no alto do morro e voltada para a praia. Ela passou a trabalhar no lugar que frequenta desde criança por uma promessa que fez para se curar das crises de epilepsia. Perguntada se valeu a pena e se está curada, ela é direta:

— Não, mas se você quer saber, estou satisfeita.

Deinfra já conferiu o local

Os cuidados de dona Maria não diminuíram nem quando recebeu os funcionários do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) que foram verificar as condições da igreja e montar uma planta do local. Segundo o diretor de Cultura de Garopaba, Wagner Nascimento, ela deixou bem claro que não era para mexer nas imagens dos santos.

E quando é para recordar um momento marcante em tantos anos na igreja, ela não pensa duas vezes:

— A comemoração de 150 anos da paróquia. Foi uma festa linda. Ficamos um ano inteirinho arrecadando mantimentos para fazer um bolo montado sobre um caminhão. Uma coisa dessas a gente não vai ver mais. Quem sabe, no dia da reforma - lembra com os olhos cheios de lágrimas.

Com um tom um pouco arteiro, desafiou a reportagem e propôs para o fotógrafo Alvarélio Kurossu:

— Agora, se você tiver coragem, pode subir até o sino.

Ela aproveitou para matar a saudade daquele som: momentos depois que os dois subiram as escadarias que levavam até o sino, do portal da igreja, foi possível ouvi-lo tocar. Depois disso, o reencontro com Maria José da Silva, foi o reencontro com uma mulher cuja satisfação era impossível disfarçar, tamanho o sorriso que estampava em seu rosto.


Falta verba

O prefeito de Garopaba, Luiz Carlos Luiz, afirmou que foram orçados cerca de R$ 100 mil para uma obra emergencial de sustentação da torre do sino e de pintura externa "provisória", mas esse dinheiro ainda não foi levantado. De acordo com o diretor de Cultura, Wagner Nascimento, o valor deve ser conseguido por meio de leis de incentivo à cultura ou da iniciativa privada.

Uma reforma mais ampla, arquitetônica e cultura também está prevista. O prefeito explicou que este trabalho ainda está sendo planejado.

O secretário de Turismo, Marcus Israel, informou que há um interesse em recuperar o caráter histórico de Garopaba, investindo na reforma e sinalização de diversos casarões antigos e engenhos centenários.

(Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18§ion=Geral&newsID=a3151936.xml acessado em 23/12/2010)