domingo, 1 de agosto de 2010

Falso Enxaimel

Matéria do Jornal de Santa Catarina do dia 23/07/2010 | N° 11999

ENXAIMEL


Uma

deturpação,

um fingimento,

apenas um

cenário

Roberto Burle Marx, artista

plástico e arquiteto paisagista,

em entrevista ao Santa

em 1980, quando veio a Blumenau

e considerou o falso

enxaimel como “um aborto

da arquitetura”



É válido construir réplicas?

Prédios que ignoram técnica original ressurgem no Centro

O mosaico formado pelas tábuas na parede e as floreiras nas janelas saltam aos olhos dos turistas pelo detalhismo do enxaimel no Centro de Blumenau. Pena a paisagem ser ilusória. O cenário que procura retratar a arquitetura da época da colonização se multiplicou na década de 1970, após a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) pela prefeitura aos que construíssem a fachada semelhante à técnica construtiva em enxaimel. A lei foi revogada em 1994, mas atualmente o falso enxaimel reaparece nos prédios públicos, como na nova sede dos Correios e nos projetos dos novos prédios da Justiça Federal e da Câmara de Vereadores. O que diferencia o genuíno do falso está no básico: a construção. O enxaimel original consiste na construção feita com o travejamento de madeiras. Essas estruturas são preenchidas com tijolos ou taipas.

Programado para ser concluído em outubro, o novo prédio dos Correios, instalado na esquina das ruas Curt Hering e Padre Jacobs, está sendo construído com a fachada enxaimel. A pretensão ao optar pela réplica, justifica a estatal, é homenagear a herança cultural da região. O argumento é o mesmo dos responsáveis pelos projetos da Justiça Federal e da Câmara de Vereadores.

Secretário de Turismo, José Eduardo Bahls de Almeida acredita que a retomada das fachadas no Centro da cidade ajudam a fortalecer o turismo.

– O enxaimel faz parte da nossa história e os turistas gostam de ver e fotografar. Mas é importante perceber que mesmo na Alemanha as edificações já têm estilo moderno, o que é gratificante para o turista – avalia.

Especialistas criticam homenagem à cidade com falso enxaimel

Entretanto, levantar edifícios com a técnica enxaimel original não é inviável. Especialista na técnica, o carpinteiro Paulo Roberto Volles calcula o custo médio de R$ 1,2 mil para cada metro cúbico construído.

Coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Furb, Yone Yara Pereira critica a homenagem à cidade por meio do falso aspecto da técnica enxaimel nos prédios públicos.

– Não cabe mais para uma cidade moderna o resgate falso da tradição. O falso enxaimel é só um cenário, ilusão. Por que usar o falso para as pessoas admirarem se uma arquitetura moderna e ousada também atrai o olhar dos turistas? – questiona.

Numa ótica diferenciada, os prédios da Justiça Federal e da Câmara de Vereadores também pretendem resgatar o enxaimel na fachada. A diferença nas duas construções, no entanto, está na adoção de uma leitura moderna da técnica, com a implantação de vidros e estruturas em alumínio, em vez de madeira e tijolos.

cristian.weiss@santa.com.br

CRISTIAN WEISS

Um comentário:

  1. isto,a arquitetura da falsa tradição alemã em Blumenau e outras cidades é - pra mim como um alemão e, também como o grande Roberto Burle Marx, um arquiteto paisagista que vive aqui no vale do itajaí - horrorosa.

    me desculpam, mas por exemplo a prefeitura de Blumenau é como Las Vegas ou como o Junk Space, um termo que o arquiteto Rem Koolhaas criou.

    mas muitas casas da época da colonicação alemã são em condições miseráveis e ninguém tem o dinheiro para uma restauração. isso é uma coisa sem-vergonha.

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